Segundo a versão de moradores, a área onde nasceu Alto Alegre dos Parecis pertencia a Paulo Oliveira Melo que a perdeu por não cumprir os termos do contrato de ocupação assinado com o Incra. Em 1986, o Sr. Morimoto ali se instalou, após comprar do Incra uma área adjacente à cidade. Nessa época, o acesso era pela Linha 176, atual RO 490.
Quando Isidoro Stédile era administrador de Alta Floresta do Oeste, demarcou o futuro município. Alto Alegre ainda permaneceu como distrito de Alta Floresta até 1994, quando um grupo de moradores fez um movimento pela emancipação.
Em 1º de janeiro de 1997, assume a primeira prefeita eleita, Vitória de Fátima Betelli da Silva. De acordo com dados do IBGE, no município em 2013 havia 13.827 habitantes.
Os pioneiros Barroso e sua esposa, Ana Maria, e o ministro da eucaristia, Francisco de Assis, contam, com detalhes, a história do município para a equipe do programa do Decom“Pioneiros – A História de Todos Nós”.
Decom – Qual o motivo que os fizeram mudar para Rondônia?
Barroso – Somos casados há 50 anos. Meu pai tinha uma propriedade em Umuarama, no Paraná, e, mesmo assim, resolvemos vir para Rondônia porque soubemos que estavam dando terra aqui. Chegamos a Cacoal em 1978. Moramos na beira do Bambu um ano e pouco e mais três anos em Rolim de Moura trabalhando de chapa. Os caminhoneiros chegavam e não sabiam os endereços e eu ia ensinando.
Ana – Quando casamos estava com 17 anos de idade, isto em 1965. Quando viemos pra cá já tínhamos três filhos. Em Cacoal só havia a avenida Sete de Setembro. Era “grilo” (invasão). Fazia-se uma casa de dia e ela era “grilada” de noite.
Decom/Sms – Como foi a chegada em Alto Alegre?
Barroso e Ana – Vim até o ramal 200, onde, na Linha 25, tinha uma estrada. No cacaio, carregava um pouco de arroz, açúcar e café. A “mistura” era carne de caça que a gente abatia no caminho. Quando o Barroso matava uma Anta eu temperava os bifes. Nossa, parecia carne de boi! Legal foi como consegui uma data (terreno) aqui em Alto Alegre. Estava num bar em Pimenta Bueno, onde só havia bandido e jagunço. Aí um cara falou: “Segunda-feira vai ter seleção em Pimenta.” Fui lá, apresentei os documentos exigidos e entrei na região. Só tinha o barracão do Incra e um botequinho, onde hoje é o posto de gasolina.
Decom/Sms – Como foi a escolha do nome Alto Alegre?
Ana – Aconteceu uma reunião no barracão do Sebastião e ele perguntou: “Aqui vai ser uma cidade, como vai se chamar?” Aí o Zé Bezerra, após ouvir várias sugestões, saiu com essa: “Como isso aqui fica em cima de um morro, dá pra se chamar Alto Alegre. Estava nós dois nesta reunião, seu Ronaldo, o Zé Bezerra, o Tião e o Valtão. Todos assinaram a ata e o nome ficou mesmo Alto Alegre.
Decom/Sms – E as terras hoje são caras?
Barroso e Ana – O terreno aqui custa uma fortuna. Qualquer “datinha” aqui custa R$ 10 mil, R$ 12 mil. Por que Rolim de Moura prosperou? Porque as datas foram dadas. A terra do Antônio Morimoto tinha mais de 1000 alqueires, hoje é tudo grilo dos Sem-Terra.
Decom/Sms – O senhor começou plantando o quê?
Barroso – Milho, arroz e feijão.
Ana – A gente plantava seis litros de feijão e produzia seis sacas. Era a coisa mais linda, hoje não dá mais nada não. A terra daqui é igual a de Umuarama de onde viemos. Aqui a terra não é roxa, é um celeiro de tatu. Nossa máquina de descascar arroz era o pilão. Hoje você não encontra aqui um pé de arroz pra fazer chá. A plantação é de capim pra alimentar gado.
Decom/Sms – Quem foi o primeiro prefeito?
Barroso e Ana – O primeiro prefeito (tampão) foi o José Santana. Mas a primeira eleita foi Vitória de Fátima, depois o João Matt e o atual prefeito é Obadias Braz Odorico.
Decom/Sms – O que os senhores acham que está faltando no município que completou 20 anos no dia 22 de junho?
Barroso e Ana – De que adianta a criançada estudar se não tem serviço pra eles? Alto Alegre não tem uma indústria sequer. Para manter a juventude na cidade, é preciso oferecer condições, me refiro a empregos. Sem ter onde trabalhar, eles vão embora, em busca de melhores dias.
Decom/Sms – Barroso, seu nome verdadeiro é Waldir? Explica essa história.
Barroso – O Tião, aquele que falamos da reunio que colocou o nome da cidade, gostava muito de caçar. Numa dessas caçadas, a gente tinha tomado umas cachaças e ele começou a falar: Encosta Barroso, encosta Barroso e pegou. Se perguntarem por Waldir, ninguém sabe quem é, mas Barroso todo mundo dá o meu endereço. Acho que foi assim que os senhores chegaram até aqui em casa. (risos)
Decom/Sms – Dona Ana, é verdade que o Barroso não queria que a senhora se mudasse pra cá?
Ana – É sim. Eu ficava em Rolim de Moura e ele vinha pra cá. Um dia falei pra ele que não ia dar certo isso não. Certo dia, o Vantuir que tinha um jipe chegou e disse: Tô indo pra lá hoje, quer ir comigo, Ana? A mulher dele também estava com ele e, então, juntei um colchão, um rádio velho, mais as minhas coisas pessoais e viemos até o rio Branco. Apesar dele não ter gostado muito, ficamos lá, os quatro, espremidos em um cubículo 4 por 4, coberto de palha.
Decom/Sms – E agora como vocês vêem tudo isso?
Barroso e Ana – Chegamos nessas terras há 33 anos, muito antes disso aqui virar município. Por isso, só temos que desejar parabéns para os vinte anos de nossa querida Alto Alegre dos Parecis.
Decom/Sms – E o senhor veio pra Rondônia quando e por que?
Francisco Assis – Vim pra cá em 1975 porque na minha região em Minas Gerais a coisa estava ficando apertada. A gente sempre foi da roça e chegou num ponto que a chuva atrasava, essas coisas. Cheguei a Cacoal no dia 30 de outubro de 1975. Morei 16 dias na cidade, depois comprei uma marcação na linha 8. Foi assim: O Incra cortou, demarcou e entregou para o pessoal o cadastrado por eles até o quilometro 22 e o povo chegando mais e mais. Foi quando o administrador do instituto, Reginaldo Joca, autorizou o pessoal entrar mais 11 km. Ele (Reginaldo) avisou que o restante era proibido porque pertencia aos índios. Foi então que comprei esse “grilo” que, segundo fiquei sabendo depois, era uma área que o pessoal comprou de um tal de José, que veio de Mato Grosso e foi pegando a grana do povo e depois foi embora. Bom, pra encurtar a conversa, a terra foi mudando de mão em mão até que um dos lotes eu comprei. Foram quatro anos sem conseguir o documento da terra. Até que um dia estacionou um jipe bacana em frente de casa e desembarcou um pessoal dizendo que era do Incra e que iriam legalizar as terras.
Decom/Sms – E o documento da terra?
Francisco Assis – Durante almoço com eles, perguntei se a pessoa poderia ter mais de um lote de terra e eles me questionaram sobre o motivo da pergunta. Expliquei que o vizinho vivia me atazanando, afirmando que a terra onde eu estava era dele. Eles perguntaram se tinha alguma marca. E eu respondi que tinha a cerca. Então eles disseram que da cerca pra lá era dele e da cerca pra cá era meu. Fiquei lá de 1975 a 1984.
Decom/Sms – Como é que Alto Alegre entra na sua história?
Francisco Assis – Em 1984 vim dar uma olhada por aqui. Era o tempo da fartura de feijão. Aí falei pra mim mesmo: vou vir pra cá e vender aquele trem lá. Consegui vender e, quando foi em outubro, me mudei. Com o passar do tempo, resolveram criar Alto Alegre. Reuniram o pessoal que tinha lote e cada um tirava uma esquina e doava o resto da terra. Assim foi formando o núcleo urbano.
Decom/Sms – Quem foi o primeiro administrador?
Francisco Assis – Quando já estava tudo formado, indicaram o José Santa para ser o primeiro administrador. Depois aconteceu a eleição e o primeiro prefeito eleito, na verdade primeira eleita foi uma mulher, a doutora Vitória. O Devanir, marido dela e médico, enfrentou cacaio, comeu muita mandioca cozida com a gente pra acabar de chegar em casa, quando era solteiro.
Decom/Sms – Como foi a história do fotógrafo que veio vender as fotos de suas terras?
Francisco Assis – Quando isso aconteceu já estava produzindo. De repente, começou a passar um avião por cima da nossa data. Ia e vinha, dava rasante e a gente sem saber o que estava acontecendo. Certo dia pára uma caminhoneta bonita em frente de casa. Desce um cidadão e mostra uma bocado de fotografias da nossa terra. O convidei a entrar e ele foi mostrando. Eram fotos bonitas e bem batidas. Conversa vai, conversa vem, ele me convenceu a pagar pelas fotos. Essas fotos hoje fazem parte da decoração da sala da nossa casa.
Decom/Sms – Como o senhor se transformou em ministro da Igreja Católica?
Francisco Assis – Toda vida fui católico lá em Minas. Quando cheguei na Linha 8 em Cacoal, encontrei um amigo meu de Minas e, numa reunião da Comunidade São Pedro, me elegeram coordenador. O padre que ia rezar a missa era esse que hoje é prefeito de Cacoal, padre Franco, juntamente com o padre Toninho. Isso em 1975.
Decom/Sms – E o ministro da eucaristia em Alto Alegre?
Francisco Assis – Viemos pra cá e construímos uma igrejinha ali perto do rio Branco. Depois me tornei ministro da eucaristia com provisão da paróquia de Alta Floresta, pois aqui, naquela época, era distrito de Alta Floresta. Hoje os padres aqui de Alto Alegre são verbitas e a maioria veio de fora do Brasil. Têm dois da Polônia, um chinês e outro da Indonésia. Apenas um é brasileiro. Nossa padroeira é Nossa Senhora de Lurdes. Como ministro da eucaristia, na ausência do padre, posso fazer batizado, dar a comunhão e até rezar missa e encomendar alma.
Decom/Sms – O senhor é casado com quem e há quanto tempo?
Francisco Assis – Sou casado há 56 anos com a dona Conceição Ferreira de Assis. Tivemos sete filhos e apenas cinco estão vivos, duas mulheres e três homens. Hoje estou com 76 anos. Aproveito para felicitar a nossa querida Alto Alegre dos Parecis.
Fonte
Texto: Silvio M. Santos
Fotos: Robson Paiva
Decom - Governo de Rondônia