Militares queriam matar Glauber Rocha
Documentos revelados pela Comissão da Verdade do Rio de Janeiro revelam que militares monitoravam cineastas brasileiros e que o diretor Glauber Rocha, um dos nomes mais importantes do Cinema Novo, esteve marcado para morrer durante a ditadura militar no país.
Na primeira página do documento, datado de setembro de 1971, está a palavra "morto", escrita à mão. De acordo com informações da própria Comissão ao UOL, a palavra era praxe na época para determinar que o indivíduo precisava ser morto.
Na mesma época em que a ordem teria sido dada, Glauber partiu, por vontade própria, para o exílio.
O relatório produzido pela Aeronáutica descreve Glauber como um dos líderes da esquerda brasileira. A monitoração em torno das atividades do diretor de "Deus e o Diabo na Terra do Sol" e "Terra em Transe" era feita através de entrevistas que Glauber concedia a publicações europeias, sempre críticas ao governo militar e a repressão. Os depoimentos do cineasta era considerada pelos militares como um "violento ataque ao país".
Em 1971, Glauber já era um cineasta de destaque no exterior tendo, inclusive, ganhado o prêmio de Cannes. Nas inúmeras entrevistas no exterior, ele citava o que desagradava o regime, já que ele falava em tortura, massacre de indígenas, execuções, financiamento dos Estados Unidos, Japão, Alemanha, no apoio ao regime.
Os documentos serão divulgados neste sábado (16), durante homenagem da Comissão ao cineasta, que acontece no Parque Lage, no Rio de Janeiro, às 15h. Será entregue à família de Glauber uma série de documentos que mostra a importância das denúncias que Glauber fez à imprensa e o acompanhamento que ele sofria pelos órgãos da repressão. O evento confirmou a presença dos filhos de Glauber, Erik e Paloma, além de Zelito Viana e Silvio Tendler.
A programação termina com a exibição gratuita de "Deus e o Diabo na Terra do Sol", marco no cinema político brasileiro, que completou, recentemente, 50 anos.