
Donald Trump se mostrou bem mais contido no segundo debate entre os principais pré-candidatos republicanos à presidência dos EUA. O evento, realizado pela CNN na noite desta quarta-feira (16), teve transmissão e cobertura em tempo real do G1.
Em poucas ocasiões o líder das pesquisas atacou diretamente seus adversários, contrariando seu tradicional estilo agressivo. Logo no primeiro bloco, porém, ele questionou a presença de Rand Paul no debate. “Já há gente demais no palco, ele não deveria estar aqui, tem menos de 1%”, disse, durante uma pergunta em que o candidato sequer havia sido citado.
Ele também evitou confrontos com o segundo colocado nas pesquisas, Ben Carson, com quem trocou palavras de elogio e chegou até a apertar as mãos, em sinal de aprovação, quando este disse que havia aconselhado George W. Bush a não intervir militarmente no Iraque, em 2003.
Ele cumprimentou ainda de forma bem-humorada Jeb Bush, quando este disse que gostaria de ser chamado de “High Energy” pelo Serviço Secreto, brincando com uma declaração de Trump de que teria “pouca energia”. Respondendo à mesma pergunta, Trump arrancou risos da plateia ao dizer que gostaria de ser chamado de “Humble” (humilde). Bush também se saiu bem e conseguiu aplausos quando Trump disse que o irmão dele “nos deu Barack Obama, por causa do desastre do final de seu mandato”, ao que Jeb respondeu que seu irmão fez dos EUA um lugar mais seguro.

A maior adversária de Trump acabou sendo Carly Fiorina, que foi “promovida” e ganhou a chance de debater com os principais candidatos, após subir nas pesquisas depois de se destacar no primeiro debate, promovido pela Fox News, no qual discutiu apenas com os menos cotados nas pesquisas.
Os dois chegaram a discutir suas carreiras como empresário e ela citou resultados positivos da HP, empresa da qual foi CEO. Trump rebateu, dizendo que ela foi “uma das piores CEOs da história” e que sua administração foi “um desastre”. “Ela nunca teria emprego em uma das minhas empresas”, disse.
Alguns candidatos aproveitaram a ocasião para fazer duras críticas ao governo Obama e também à pré-candidata democrata Hillary Clinton. Scott Walker, Mike Huckabee e Chris Christie foram os mais críticos, e o último chegou a questionar por que Clinton ainda não foi processada pelo caso de seus e-mails, que teria colocado em risco a segurança nacional.
Quanto a Obama, as acusações mais frequentes foram referentes à política externa, com muitos comentários contra o acordo nuclear com o Irã, que Ted Cruz disse que irá rasgar “no primeiro dia” caso seja eleito, e que Mike Huckabee chamou de “ameaça à civilização ocidental”. O único a adotar um discurso mais conciliador foi John Kasich, que disse não concordar com os termos do acordo, mas defendeu a negociação com outros países, inclusive os considerados inimigos dos EUA. Ele destacou que o acordo prevê sanções e até uma ação militar caso o Irã não respeite os termos.
A Síria e uma possível intervenção dos EUA foram abordados com uma pergunta a três pré-candidatos que, como senadores, se posicionaram contra uma proposta de Obama para combater o governo de Bassar al-Assad há dois anos: Scott Walker, Ted Cruz e Rand Paul. Paul disse acreditar que, caso al-Assad tivesse sido deposto, o Estado Islâmico estaria controlando a Síria hoje. “Algumas vezes, a intervenção nos deixa menos seguros”, afirmou.

Os pré-candidatos também dedicaram um bom tempo à discussão da imigração ilegal, inclusive com alguns apoiando a polêmica proposta de Donald Trump de construir um muro na fronteira com o México. Já o plano de expulsar todos os imigrantes ilegais, cerca de 11 milhões de pessoas, foi considerado inviável. Trump agora diz que as pessoas “que mereçam” poderiam retornar aos EUA, de forma legal, mas ainda assim o projeto foi criticado. Chris Christie elogiou a ideia, mas disse que não há como “deportar 15 mil pessoas por dia, durante dois anos”.
Já Carson apresentou uma proposta para que alguns dos imigrantes ilegais sejam mantidos como “trabalhadores convidados” em fazendas por um período de seis meses, após o qual poderiam se qualificar para permanecer no país, mas disse que seu plano não é uma forma de anistia, já que esses imigrantes não teriam direito a votar ou ter cidadania americana.
Durante a discussão do tema, Bush chegou a pedir que Trump pedisse desculpas à sua mulher, já que o empresário afirmou que Jeb é simpático aos mexicanos porque esta é a nacionalidade de sua esposa. Trump se recusou, mas disse ter ouvido que trata-se de “uma mulher adorável”. Bush foi aplaudido ao encerrar sua resposta dizendo não ser contra um controle mais eficiente nas fronteiras, mas que as ideias de construir um muro e deportar milhões “custariam bilhões de dólares e separariam famílias”.
O debate foi realizado na Reagan Library, que fica na sede do Ronald Reagan Presidential Library & Museum, em Simi Valley, na Califórnia. Para definir quem seria convidado, a CNN analisou 14 pesquisas de opinião e fez uma média das intenções de voto de cada pré-candidato.
Menos cotados nas pesquisas, Rick Santorum, Bobby Jindal, George Pataki e Lindsey Graham participaram de outro debate, exibido antes do principal. Segundo a CNN, o mais bem sucedido foi Graham, que conquistou mais aplausos, elogios e citações em redes sociais do que seus adversários.