
BRASÍLIA — O Brasil aguarda o comunicado oficial da Venezuela sobre a decisão de declarar embaixador brasileiro em Caracas, Ruy Pereira, persona non grata — o que significa que o diplomata será expulso — para também expulsar um diplomata venezuelano do país. Pereira está no Brasil, onde pretendia passar as festas de fim de ano.
— Ainda não recebemos (o comunicado) — disse ao GLOBO o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira.
Pereira foi declarado persona non grata pela Assembleia Nacional Constituinte (ANC) chavista no último sábado. Em nota divulgada no mesmo dia, o Itamaraty disse que “tomou conhecimento” da expulsão do diplomata brasileiro e que “caso confirmada, essa decisão demonstra, uma vez mais, o caráter autoritário da administração Nicolás Maduro e sua falta de disposição para qualquer tipo de diálogo”.
“O Brasil aplicará as medidas de reciprocidade correspondentes”, continua o texto. Como Maduro retirou seu embaixador após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, como parte do congelamento das relações, o resposta do Brasil seria expulsar o atual encarregado de negócios da Venezuela. Além disso, o Itamaraty não tem nenhuma previsão de enviar outro embaixador brasileiro a Caracas.
A informação de que o diplomata brasileiro será expulso foi dada pela presidente da Constituinte da Venezuela, a ex-chanceler Delcy Rodríguez. Ela confirmou, ainda, a declaração de persona non grata do encarregado de negócios da Embaixada do Canadá, Craib Kowalik.
— No âmbito da competência da Assembleia Constituinte, decidimos declarar como persona non grata o embaixador do Brasil até que se restitua o fio constitucional que o governo de fato rompeu neste país-irmão — afirmou Delcy, acusando Brasil e Canadá de “permanente e grosseira intromissão nos assuntos internos da Venezuela” e questionando a legitimidade do governo de Michel Temer.
Ambos os países questionaram a recente decisão adotada pela Constituinte de dissolver dois governos municipais — Grande Caracas e Alto Apure — por motivos aparentemente políticos.
O embaixador brasileiro retornara a Caracas em julho depois de permanecer nove meses no Brasil pela tensão política entre os dois países. O diplomata havia sido chamado ao Brasil para consultas em setembro do ano passado, após o governo de Maduro congelar vínculos no rastro de duras críticas feitas ao processo de impeachment de Dilma. Diante do recrudescimento da crise política no país vizinho o Itamaraty analisou ser importante ter um representante com esse status em Caracas.