Época entrevista o geneal Hamilton Mourão
Em entrevista à ÉPOCA, presidente em exercício falou sobre a escolha do novo PGR, criticou a comunicação do governo e disse que o número dois do Itamaraty tem sido freio a Ernesto Araújo
"Não é off, não. Pode ser em on mesmo." Foi assim que o presidente da República em exercício, Hamilton Mourão, recebeu ontem a coluna para uma entrevista na sala da Vice-Presidência, no anexo do Palácio do Planalto. Com os termos em inglês, Mourão foi claro, com ÉPOCA, que não falaria extraoficialmente, ou seja, off the records. Pediu para gravar a conversa, pedido a que a coluna não se opôs. Esta quinta-feira foi a sétima vez em que Mourão segurou a caneta presidencial. Está tranquilo, principalmente porque vê uma crescente tranquilidade entre os núcleos ideológico e militar, que racharam o governo Jair Bolsonaro desde janeiro.
"Alguém chegou para essa turma [os olavistas] e disse: 'Chega'. Acho que o próprio presidente pode ter feito isso", revelou. "Carlos sumiu", analisou, referindo-se ao vereador Carlos Bolsonaro, o mais virulento filho do presidente, que atacou o próprio Mourão em diversos episódios e contribuiu para quase azedar de vez a relação entre os fardados e os ultraconservadores.
Mourão também melhorou sua avaliação sobre a política externa brasileira. Segundo ele, o número dois do Itamaraty, Otávio Brandelli, tem desempenhado um papel estratégico em frear Ernesto Araújo. "O presidente deu algumas diretrizes", afirmou.
Mourão falou ainda sobre a escolha do novo ou da nova procuradora-geral da República, criticou a comunicação do governo, mesmo depois da posse do novo secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, e analisou a forma de Bolsonaro lidar com o Congresso.
Depois de cinco meses, em que se reuniu com o primeiro-ministro chinês, Xi Jinping, o vice americano, Mike Pence, e palestrou para alunos e professores de Harvard, Mourão usou palavras de lealdade ao presidente ao longo da conversa — "ele deu as diretrizes", "é o jeito dele", "ele quem decide".